O Projeto Kuiper usará milhares de pequenos satélites que operam em movimentos coordenados no espaço, assim como a Starlink. Serviço da Amazon chegará à América Latina em meados de 2025.
A Starlink, serviço de internet via satélite do bilionário Elon Musk, terá uma nova concorrente nos próximos meses. A Amazon, do também bilionário Jeff Bezos, vai começar a oferecer o seu provedor Projeto Kuiper na América Latina a partir de 2025 – ele chegará ao Brasil em 2026.
O Projeto Kuiper e a Starlink têm várias coisas em comum, incluindo o uso de pequenos satélites que operam na chamada “órbita terrestre baixa” (LEO, na sigla em inglês) e o foco em usuários de regiões com pouca oferta de internet.
E ambos buscam governos como clientes: a Starlink já é usada em batalhões do Exército e navios da Marinha, por exemplo, e o Projeto Kuiper vai oferecer dispositivos com mais capacidade voltados para o uso por órgãos públicos.
Para entrar nesse mercado, a Amazon quer operar 3.236 satélites, criando uma “constelação” em que os equipamentos operam em movimentos coordenados no espaço. Confira abaixo como a empresa diz que o Projeto Kuiper vai funcionar:
🛰️ satélites ficarão em altitudes de 590 km a 630 km da Terra, enquanto modelos da Starlink ficam mais próximos, a 550 km, e satélites convencionais (ou geoestacionários), a 35.000 km – a proximidade da Terra diminui a latência, um índice importante para chamadas de vídeo e jogos online, por exemplo;
🛜 velocidade de download será de até 1 gigabit por segundo (Gbps), quatro vezes o limite da Starlink, que diz alcançar até 220 megabits por segundo (Mbps) – na prática, a Starlink tem média de 70 Mbps, segundo dados da SpeedTest (Ookla) de 1º trimestre de 2023;
📶 conexão será feita por um terminal que poderá ter o tamanho de um livro (essa versão, no entanto, só alcançará velocidades de até 100 Mbps);
📺 clientes na América Latina serão atendidos pela Vrio, dona da operadora de TV por satélite Sky, que firmou acordo com a Amazon na região.
Projeto Kuiper x Starlink
O acordo de Amazon e Vrio levará o Projeto Kuiper para sete países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Uruguai. A Starlink, por sua vez, diz que seu serviço já está disponível em mais de 80 países.
No Brasil, os provedores deverão se concentrar primeiro em regiões com baixos índices de acesso à internet.
“Mas a nossa rede também é bem flexível para atender governos, como conectar escolas e hospitais, e para atender empresas que estão em áreas mais remotas e de difícil acesso. E com foco muito grande em emergências e atendimento a desastres naturais”.
O segmento de internet via satélite representa 1% dos acessos de banda larga fixa no Brasil, segundo dados da Anatel, em julho de 2024. A Starlink lidera essa categoria, com 44,6% de participação.
O provedor de internet de Musk quase triplicou de tamanho em um ano, saindo de 90 mil acessos em julho de 2023, para 224 mil, em julho de 2024, de acordo com a Anatel.
Os dois serviços pagaram R$ 102 mil cada um para usar os seus satélites comercialmente no Brasil. Eles receberam da Anatel o direito de oferecer serviços no país ao menos até 2027.
“A Anatel concede a outorga para essas empresas desde que as bandas de frequências não interfiram os serviços que já estão implementados”, explicou o diretor do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Carlos Nazareth.
Como vai funcionar?
O Projeto Kuiper será liberado primeiro na Argentina, em meados de 2025. O Brasil deverá receber o serviço em uma segunda etapa, provavelmente no início de 2026.
Como em outros serviços via satélite, clientes do Projeto Kuiper usarão antenas para se conectarem à internet. A Amazon diz que o modelo intermediário, com capacidade de até 400 Mbps, terá custo de produção de US$ 400 (cerca de R$ 2.200), mas não informou o valor da mensalidade.
A empresa venderá um modelo compacto, do tamanho de um livro, com capacidade de 100 Mbps, e uma versão mais avançada, de 1 Gbps, voltada para usos empresariais e governamentais, mas não revelou quando eles custarão.
A Starlink cobra a partir de R$ 1.000 pelos equipamentos (kit com antena, roteador e cabos), além da mensalidade que começa em R$ 184, levando em conta os preços de setembro de 2024.
E, para oferecerem uma cobertura ampla, as empresas precisam de milhares de satélites. A Starlink já tem mais de 6.400 equipamentos no espaço, segundo o astrônomo Jonathan McDowell, que monitora a constelação da empresa.
No caso do Projeto Kuiper, os primeiros protótipos de satélites foram lançados em outubro de 2023. A Amazon tem mais 77 missões planejadas para enviar os 3.236 equipamentos que serão usados na operação comercial.
A expectativa da companhia é de que cada equipamento alcance até 10 anos de vida útil, a depender das condições espaciais.
Esse investimento custará ao menos US$ 10 bilhões, como revelou a empresa em 2019 – o valor não foi atualizado desde então. A quantia será usada para fabricar satélites e antenas, e implementar os gateways, que conectam a rede de fibra ótica terrestre com os equipamentos no espaço.
Parceria com operadora de TV
Na América Latina, o Projeto Kuiper será oferecido pela Vrio, dona da operadora de TV por satélite Sky. Pelo acordo, a venda e o atendimento será responsabilidade desta parceira, e não da Amazon.
Segundo o executivo, os esforços serão focados inicialmente em pequenas e médias cidades, já que as capitais brasileiras já costumam contar com mais conectividade.
“A probabilidade de conseguir uma penetração muito alta no centro da cidade de São Paulo não será fácil. O Brasil é um território muito grande, temos que focalizar nossas energias onde é possível chegar”.